PIB movido a minério

por | 12 mar, 2015 | Notícias | 0 Comentários

Municípios com foco na mineração ganham espaço das capitais na distribuição da riqueza nacional. Mas seis cidades ainda dominam um quarto da produção total e somente o Distrito Federal responde por quase 42% do Centro-Oeste»

Ainda que lentamente, uma mudança estrutural está se consolidando na distribuição de riquezas entre os municípios brasileiros. Esse quadro ficou evidente em 2010, quando a disparada dos preços do minério de ferro, graças ao consumo gigantesco da China, fez com que três municípios produtores engolissem parte do bolo então concentrado nas mãos das capitais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Parauapebas (PA), com uma fatia de 0,4% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, Itabira (MG), com 0,2%, e Ouro Preto (MG), com 0,1%, fizeram com que o peso das capitais na riqueza caísse de 34,5% para 34%, o menor nível desde 1999.

Segundo o economista Júlio Miragaya, economista e diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), enquanto os preços das chamadas commodities, sejam elas minerais ou agrícolas, estiverem em alta, os municípios produtores continuarão avançando, o que impulsionará o processo de desconcentração de renda do país. Trata-se de um importante movimento de interiorização do Brasil, iniciado há 15 anos. “Existe um processo de relativa redução do peso do Sudeste no PIB e de melhoria relativa das regiões periféricas, como o Nordeste e o Centro-Oeste, o que é muito positivo. Há cidades do interior crescendo muito mais do que as capitais”, afirmou.

Apesar dos avanços, o Brasil continua sendo um país muito desigual. Pelos cálculos do IBGE, apenas seis cidades — São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e Manaus — continuam a responder por 25% do PIB e cerca de 35% dos municípios dependem quase que exclusivamente do poder público para existir. No geral, pela primeira vez em três anos, a redução da desigualdade estacionou. A boa notícia, no entender dos especialistas, é o fato de as regiões antes consideradas periféricas agora atraírem empresas e mão de obra. Entre os 23 municípios com ao menos 0,5% do PIB, Vitória (ES) e São Bernardo do Campo (SP), por exemplo, aumentaram as participações em 0,1 ponto percentual entre 2009 e 2010, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro registram perdas de 0,3 e 0,2 ponto, respectivamente.

Na avaliação de Sheila Zani, pesquisadora do IBGE, em 2010, as capitais geraram menos renda, devido ao desempenho mais fraco da indústria. “Quando olhamos para 1999, vemos que as capitais geravam 38,7% do PIB. Mas esses números vêm caindo e devem continuar em queda”, assinalou. “Quando se separa o valor gerado nas capitais entre indústria e serviço, nota-se que a queda é maior na indústria”, acrescentou. Ela destacou, porém, os riscos de a economia brasileira ficar dependente do desempenho das commodities (produtos básicos com cotação internacional) para reduzir a concentração de riqueza. “Com certeza, os números de 2010 mostram o quanto a economia brasileira estava dependendo dos preços das commodities. Naquele ano, o preço do minério de ferro estava muito alto, até mais do que o petróleo. Por isso, os municípios produtores ampliaram a participação no PIB.”

Refinaria

Os dados IBGE revelaram ainda que o município com maior PIB per capita foi São Francisco do Conde, na Bahia. Em 2010, a cidade, que abrigava a segunda refinaria de petróleo do país em capacidade instalada, registrou renda de R$ 296.885 por habitante. Ao mesmo tempo, ficou na 2.743ª posição no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). “Essa desigualdade é reflexo de problemas históricos”, observou Heron do Carmo, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP). “Até 120 anos atrás, o Brasil era um país dividido. Havia uma elite dona das terras, uma população de imigrantes e outra de escravos sem direitos. Tudo isso afetou a economia brasileira mais adiante”, argumentou.

Segundo o professor, a estabilidade da economia trazida pelo Plano Real, em 1994, as políticas de distribuição de renda e o crescimento da economia ajudaram a minimizar as diferenças regionais. “O Brasil, comparativamente a outros países, ainda é desigual, mas isso vem melhorando ao longo do tempo. Do ponto de vista de tempo, 10 anos de avanços é pouco na história de um país”, disse. “Mas esse movimento poderia, contudo, ser mais rápido se a política econômica fosse mais eficaz”, criticou.

O IBGE também dividiu o PIB dos municípios por setor. No PIB da administração pública, Brasília ficou em primeiro lugar, com R$ 72,4 bilhões. No segmento de serviços, a cidade aparece em terceiro, com R$ 124,1 bilhões. Na indústria, a capital do país figura em 10°, com R$ 8,7 bilhões — uma posição que, segundo Júlio Miragaya, só ocorreu devido a metodologia do IBGE, que coloca na conta a construção civil. “Se fosse avaliada apenas a indústria de transformação, talvez Brasília não estivesse entre os 100 maiores municípios”, disse. No Centro-Oeste, a cidade representa 42,76% do PIB. A segunda maior participação é de Goiânia, com 6,97%.

» Menor renda per capita

O menor PIB per capita, em 2010, foi R$ 2.269,82, observado no município paraense de Curralinho. Localizada no arquipélago de Marajó, a cidade é sustentada pela transferência de recursos federais. Tanto que a administração pública participou com 61,0% do PIB total. Outras atividades importantes no município são a construção civil, a pesca e a agricultura extrativista. Em 2009, o município com menor PIB per capita era São Vicente Ferrer (MA).

*Fonte: Correio Braziliense – 13/12/2012

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