Audiência pública debate o trâmite legislativo do PL 2918 no Senado Federal

por | 11 abr, 2024 | Artigos, Notícias | 0 Comentários

Primeira audiência sobre o tema na Comissão de Meio Ambiente trouxe grande público interessado no debate, muitos especialistas, visões divergentes e controversas, uma acalorada sessão e a promessa de uma longa batalha democrática em prol de um consenso em torno da temática

Paulo Castro (Ascom/AMUSUH)

Ânimos exaltados, porém respeitosos. Sessão lotada. Grande variedade de opiniões divergentes. Muitos especialistas e autoridades conhecedoras e interessadas no tema. Começou assim anteontem (09/04), às 14h, a primeira audiência pública na Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado Federal, convocada pelo senador Nelsinho Trad (PSD/MS), para debater – com congressistas, especialistas e a sociedade brasileira em geral – a relevância do PL nº 2918/2021 para o setor hidroelétrico do País, projeto de lei cujo relator é o próprio parlamentar (link para a sessão completa: https://bit.ly/4cOG4K5).

Subscrito pelo senador Luis Carlos Heinze (PP/RS), que se licenciou de suas funções legislativas anteontem para um tratamento de saúde, o PL foi uma sugestão da Associação Nacional de Municípios Sedes de Usinas Hidroelétricas e Alagados (AMUSUH), após um longo e detalhado estudo técnico da entidade referente ao atual setor hidroenergético brasileiro.

Presidida pelo senador Nelsinho Trad, a primeira mesa da audiência pública foi composta por Claudio Girardi, consultor jurídico e membro da Comissão de Assuntos Regulatórios da OAB/DF; Giordano Almeida de Azevedo, coordenador do Grupo Assessor do Modelo Integral de Avaliação Global do Ministério de Ciência e Tecnologia; Giuseppe Serra Seca Vieira, secretário nacional de Segurança Hídrica do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional; e Veronica Sánchez da Cruz Rios, diretora-presidente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

 

Necessidade de revisão e adequação da CFURH

 

Com a palavra, Claudio Girardi expôs as principais razões sobre a relevância do PL para uma necessária mudança na legislação sobre o setor hidroelétrico. “A partir de 1998, a legislação sobre a CFURH deveria ter sido revista e adequada ao novo regime jurídico estabelecido, já que, a partir de então, foi estabelecida uma referência de preço específica para a geração de energia elétrica na fonte produtora. Como consequência de mudanças no setor, não seria mais necessária a decomposição da tarifa da distribuidora para o cálculo da Tarifa Atualizada de Referência [TAR], metodologia que até hoje é mantida para o cálculo da CFURH”, afirmou ele.

Em seguida, o consultor disse que “é importante registrar que o art. 20, § 1º, da Constituição Federal dispõe sobre a CFURH e também sobre a exploração do petróleo e da mineração. Para essas duas últimas atividades, a legislação é clara ao se referir ao ‘resultado da exploração’, enquanto no caso dos recursos hídricos há dúvidas por parte dos entes federativos, tendo em vista a complexa expressão matemática para se chegar ao valor devido. O projeto de lei que hoje é objeto desta audiência pública se faz necessário para corrigir as distorções no cálculo da CFURH e trazer segurança jurídica e tranquilidade aos entes federados mais vulneráveis [743 municípios], que tiveram áreas alagadas para a implantação de usinas hidroelétricas e cujos recursos advindos da compensação financeira podem e são utilizados para a implantação de políticas públicas municipais”.

Na condição de ex-procurador da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e profundo conhecedor do tema, Claudio Girardi por fim afirmou que a regulamentação da ANEEL que inclui encargos sem amparo legal e exclui o mercado livre do cálculo da CFURH não cumpre o que a Constituição determina para a compensação financeira de estados e municípios pelo uso de recursos hídricos e, por isso, a legislação atual deve ser modificada.

 

Cenário do setor elétrico de 34 anos atrás

 

A segunda mesa de debates foi composta por Gustavo Gonçalves Manfrim, subsecretário de Assuntos Econômicos e Regulatórios do Ministério de Minas e Energia; Otávio Augusto Giantomassi Gomes, presidente da AMUSUH e prefeito de Ilha Solteira (SP); José Fábio de Moraes Jr.; especialista do setor hidroelétrico e consultor da AMUSUH; e Ludmila Lima da Silva, superintendente de Concessões, Permissões e Autorizações da ANEEL.

Em sua fala, Ludmila Lima da Silva afirmou que a terminologia usada no PL para calcular a cobrança das hidrelétricas, a receita bruta total das concessionárias, acarreta uma preocupação em relação ao aumento das tarifas aos usuários. “A gente tem uma preocupação, como gestores da tarifa para os consumidores, com o aumento que isso pode acarretar”, argumentou a superintendente, que estimou um impacto de R$ 2 bilhões ao ano nos custos de energia.

Com a palavra, o consultor José Fábio apresentou informações e dados que refutaram as colocações da superintendente, explicando que a base de cálculos usada atualmente para a aferição da CFURH, que leva em conta a energia comprada pelas distribuidoras, reporta ao cenário do setor elétrico de 34 anos atrás, quando as concessões eram verticalizadas e remuneradas por tarifa única, que exigiam a decomposição de diversos fatores para se obter o custo da geração de energia. Em seguida, ele afirmou que as inclusões dos parâmetros do Decreto nº 3739/2001, que não contam com o amparo da legislação, penalizam os cálculos da CFURH, impondo ônus aos beneficiários.

A seguir, ele disse que o PL servirá para corrigir uma interpretação contraditória da legislação em relação ao cálculo da CFURH que resulta em graves perdas de seu repasse aos municípios e estados em beneficio da União.

“Portanto, a necessidade do PL 2918 se faz urgente para atualizar a legislação que regulamenta a CFURH, para restabelecer os valores compatíveis com os resultados atuais do setor elétrico, utilizando a fonte de dados do gerador e não mais das distribuidoras. Com isso, captura-se toda a geração e elimina-se a necessidade de decompor a tarifa das distribuidoras”, concluiu ele.

 

Ausência de instrumentos da ANEEL para aferir o mercado livre

 

Com a palavra, Gustavo Manfrim disse que “queria parabenizar o senador Heinze pela autoria do projeto, de tanta importância, haja vista que é uma legislação de mais de 30 anos, porque há o mérito de que sejam feitas sua revisão e atualização. Neste sentido, em nome do MME, gostaria de trazer algumas observações, até em caráter sugestivo aqui, se me permitem, principalmente em relação ao que consta [no tocante] à base de cálculo, trazida aqui no âmbito do PL”, afirmou.

“O primeiro ponto que eu gostaria de trazer é em relação a essa mensuração ou à aferição desses preços principalmente no mercado livre. A gente sabe que essas transações são bilaterais, são contratos entre partes, […] e a ANEEL não tem acesso direto a esses preços, tampouco o MME, tampouco a própria CCEE. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica tem acesso aos montantes, mas não aos preços, aos contratos. Então, existe aqui até uma questão sobre a propriedade dessa informação”, salientou.

“No nosso entendimento, […] as empresas têm a obrigação de entregar essas informações aos fiscos, tanto estadual quanto federal. […] Então, fica a questão: como fiscalizar esses preços [no ambiente de contratação livre]? Seria uma divulgação meramente declaratória por parte dos geradores? Sendo declaratória, quais seriam os instrumentos que a ANEEL teria para fiscalizar esses preços? Ela [a ANEEL] tem acesso a bases de dados que possibilitariam o cruzamento de informações? São questões aí que a gente coloca [para melhorar o debate]”, argumentou ele.

 

Esclarecimento da Diretoria da AMUSUH

 

Por fim, fazendo uso da palavra, o presidente da AMUSUH, Otávio Gomes, fez questão de apaziguar os ânimos, dizendo que gostaria de realizar um esclarecimento e afirmando que, para isso, o local e o momento não seriam melhores, uma vez que estavam todos ali reunidos e interessados no contexto do PL 2918/2021.

“Muito tem-se afirmado no Senado Federal, na Câmara dos Deputados e nos órgãos do Poder Executivo que o PL irá acabar com a ANA. Segundo os mesmos rumores, este seria o interesse da AMUSUH. Por isso, venho como presidente da AMUSUH e prefeito do município de Ilha Solteira para refutar veementemente essa afirmativa, porque ela é descabida e não reflete nosso interesse como entidade, que sempre foi lutar pelo fortalecimento dos municípios e das instituições públicas”, afirmou ele.

“Queremos unicamente garantir a constitucionalidade dos nossos direitos. Não é do nosso interesse prejudicar nenhuma entidade na tramitação do PL 2918/2021, seja a ANA ou qualquer órgão ou concessionária”, asseverou.

“Nós, como representantes de municípios e dos entes federados, queremos com o PL 2918/2021 corrigir as distorções da legislação até hoje vigente, que foi muito útil no passado, mas que desde 1998 não condiz mais com o setor elétrico atual. Ou seja, a legislação que calcula a CFURH dos entres federados não evoluiu para a realidade que vivemos hoje no setor hidroelétrico”, argumentou ele.

“Pela letra estrita da lei, é notória a errônea interpretação da legislação quanto à forma de cálculo da arrecadação e distribuição dos recursos da compensação financeira aos entes federados, que têm direito a ela devido à perda das nossas terras produtivas para dar espaço às represas das usinas para a geração de energia elétrica. É um erro de interpretação que vem prejudicando não só os municípios, mas também os estados e a própria União e seus órgãos públicos”, disse.

Em seguida, ele pontuou que “nós queremos o justo: queremos que cada ente federado receba o que é seu, com base no seu direito constitucional, conforme determina o art. 20 da Constituição Federal de 1988”.

Por fim, concluiu que “o PL 2918/2021 está aí para abrir o debate entre todos os envolvidos, para que possamos chegar a um consenso e a um acordo justo, juntamente com o relator. Queremos apenas o que nos é de direito, segundo a Constituição Federal, como era no período inicial da CFURH, entre 1991 e 1998, antes da reforma do setor elétrico, quando se retratava a real produção da energia hidroelétrica no País”, finalizou.

Uma segunda audiência pública para tratar do mesmo tema está programada para maio.

 

Fotos do Evento

(Clique sobre as fotos para ampliar)

 

Entre para nossa Lista VIP

Nós temos uma lista especial de pessoas que acompanham de perto todas as nossas ações e recebem nossas novidades em primeira mão. Entre para esta lista colocando o seu e-mail no campo ao lado.

Post Relacionados

Convite: Frente Parlamentar Mista

Convite: Frente Parlamentar Mista

Atenção, Srs.(as) Prefeitos(as): Aguardamos sua inestimável presença nos dias 9 e 10 de abril, em Brasília (DF), para uma audiência pública no Senado Federal e para a instalação da Frente Parlamentar Mista, além de diversos encontros com autoridades da Administração...

O PL 2918 será submetido a debate público no Senado Federal

O PL 2918 será submetido a debate público no Senado Federal

A CMA do Senado aprovou o requerimento do senador Nelsinho Trad para a realização de um audiência pública, a fim de debater o tema do PL 2918 com parlamentares, especialistas e a sociedade brasileira no dia 9 de abril  Paulo Castro (Ascom/AMUSUH) Foi aprovado ontem...

© 1993-2022 AMUSUH

Política de Privacidade