A criação de um mercado livre para o gás natural, nos moldes do que já existe para a eletricidade, é um passo necessário para o país, mas que ainda depende de uma garantia mais clara, por parte da Petrobras, da exploração das novas reservas do pré-sal, e também do estabelecimento de regras comuns para a venda do produto nos diversos Estados. Essa foi a principal conclusão do debate sobre o assunto na 13º Encontro Internacional de Energia, promovido pela Fiesp. “O gás existe, mas estamos demorando demais para criar as condições necessárias para o seu aproveitamento, enquanto outros países estão fazendo o dever de casa e fortalecendo as suas indústrias”, afirmou o superintendente da Votorantim Energia, Otávio Rezende, um dos palestrantes.
Rezende citou os Estados Unidos como exemplo de como o bom uso de novas reservas de gás pode reerguer um parque industrial que se encontrava combalido.
“No caso americano, a solução veio com a exploração do gás de xisto, viabilizada a partir de 2006. Desde então, o país criou uma grande rede de produção e distribuição de gás, deixou de ser importador e movimentou US$ 77 bilhões em 2010, criando 600 mil empregos. O metro cúbico de gás já é vendido no mercado livre deles por US$ 2, chegando a ser até sete vezes mais barato do que o nosso”, enfatizou.
O súbito crescimento na exploração de gás de xisto nos EUA, segundo Rezende, só foi possível com uma legislação moderna, que incentiva a produção pulverizada entre muitas companhias e separa claramente as atividades no setor, ou seja, quem produz não distribui, e quem distribui não vende. O resultado é que a rede de gasodutos americana chega a 550 mil km, enquanto a brasileira não passa de 13 mil km. “Nem precisamos ir tão longe. Na Argentina, há 35 mil km de gasodutos”, observou.
Outra questão que o Brasil precisa resolver nos próximos anos, de acordo com ele, é se direcionamos investimentos para a extração de gás de xisto, já que nossas reservas desse mineral também são consideráveis. “Temos vários caminhos abertos, mas precisamos decidir o que queremos ser quando crescermos”, completou.
Para o diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp, José Eduardo Vidigal, o Brasil não pode abrir mão dessas grandes possibilidades de aumentar a exploração de gás. “Além de ser o melhor combustível para alimentar as usinas termelétricas, o gás é insubstituível para gerar a temperatura necessária aos altos fornos da indústria vidreira, por exemplo”, disse Vidigal, que preside a Nadir Figueiredo, maior fabricante nacional de utilidades de vidro. “Se tivermos mais disponibilidade de gás, e pudermos negociá-lo em um mercado livre, também conseguiremos reduzir os custos do combustível, que são muito altos. Lembro-me que em 1999, ano da privatização da Comgás, o gás custava entre US$ 3 e US$ 4 o metro cúbico, quatro vezes menos do que hoje.”
*Fonte: Valor Econômico – 13/08/2012