As incertezas provocadas pela renovação das concessões no setor elétrico começam a se refletir no custo de captação de recursos das empresas no mercado de capitais. A Eletropaulo, distribuidora de energia que atua na região metropolitana de São Paulo, aceitou aumentar o teto da taxa de juros que pretende pagar aos investidores em uma emissão de R$ 750 milhões em debêntures.
A remuneração máxima das debêntures, que possuem prazo de vencimento de seis anos, passou de 1,09% para 1,25% ao ano, mais a variação da taxa do depósito interfinanceiro (DI). Para efeito de comparação, na semana anterior ao anúncio do pacote para a redução do preço da energia no país, a distribuidora Elektro fechou uma captação de R$ 650 milhões pagando apenas 0,74% ao ano na série atualizada pela taxa DI.
A definição das condições da oferta da Eletropaulo, que estava prevista para hoje, foi adiada para o dia 5 de outubro. Procurada, a companhia informou que não poderia comentar o assunto por estar em período de silêncio.
As empresas elétricas estão entre as emissoras mais frequentes de títulos de dívida no mercado. De janeiro a agosto deste ano, o setor levantou R$ 5,7 bilhões via debêntures. Com a consolidação do marco regulatório, o setor era visto como um dos mais seguros pelos investidores, mas desde a proposta de antecipação da renovação das concessões feita pelo governo essa percepção mudou.
Apesar de contar com uma boa classificação de risco – “Aa1.br” pela Moody”s, a segunda melhor na escala nacional da agência -, a demanda pelas debêntures da Eletropaulo era inferior à metade da oferta antes da mudança na taxa de juros, conforme apurou o Valor.
Embora não seja diretamente influenciada pela indefinição sobre as concessões, a companhia também sofre pressões regulatórias. Em julho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou uma redução de 9,33% no valor das tarifas dentro do processo periódico de revisão previsto em contrato.
A emissão da Eletropaulo conta com a chamada garantia firme dos bancos coordenadores – Bradesco BBI (líder) e Itaú BBA. Mas para manter o compromisso de ficar com os papéis que não forem vendidos no mercado, as instituições acionaram uma cláusula contratual conhecida como “market flex”, que permite a mudança na taxa de juros em caso de uma piora nas condições de mercado.
O aumento no custo da emissão da Eletropaulo acendeu um sinal de alerta no mercado. O resultado da operação deve servir de termômetro para outras duas grandes ofertas em andamento: a da Eletrobras e a da Taesa. A estatal federal pretende captar pelo menos R$ 2 bilhões e a oferta da empresa de transmissão de energia da Cemig deve movimentar R$ 1,6 bilhão. Ambas as operações serão realizadas no regime de melhores esforços, ou seja, não existe o compromisso dos bancos coordenadores de ficar com os papéis caso não haja demanda de investidores.
*Fonte: Valor Econômico – 27/09/2012