ANTÔNIO GRASSI

por | 26 mar, 2011 | Entrevistas | 0 Comentários

Colaborador, sim, mentor, não

Grassi avalia seu papel no MinC

ANTONIO GRASSI - PERFILPara muitos, ele é o mentor por trás da maioria das decisões do atual Ministério da Cultura (MinC). Antônio Grassi garante, porém, que sua maior preocupação é fortalecer a Fundação Nacional de Artes (Funarte) em seu papel de desenvolvimento de políticas para as artes visuais, o teatro, o circo, a dança e a música.

Em entrevista ao GLOBO, ele promete fomentar a ocupação dos 20 espaços culturais da Funarte no país, inclusive com a reabertura do Teatro Dulcina, fechado desde 2007. Além disso, Grassi prepara uma série de editais para o ano – o primeiro foi lançado esta semana, para equipamentos de iluminação cênica – e já tem marcado, para a próxima terça, um encontro setorial da música, no Palácio Capanema, no Rio, com a presença da ministra Ana de Hollanda.

E, apesar de renunciar ao papel de mentor, Grassi não se furta a comentar as polêmicas que atingiram estes três primeiros meses de MinC. Para ele, há uma “tentativa de desestabilizar o ministério”.

O Globo – O senhor deixou a presidência da Funarte em 2007. Depois, a fundação foi presidida por Celso Frateschi e por Sérgio Mamberti, até sua volta, este ano. O que mudou na instituição?

Grassi – Alguns projetos continuaram avançando, como a política de editais que a gente criou. Mas acho que a diferença, hoje, é que temos uma situação ímpar na história da Funarte. Tanto na minha outra gestão quando nas posteriores, havia uma certa dificuldade de entrosamento com o restante do ministério.

O Globo – Por quê?

Grassi – Eu me lembro que, quando cheguei à Funarte, em 2003, o grande problema era o fato de o órgão ser deixado de lado pelo MinC. O ministério chegou a criar secretarias temáticas em Brasília, como uma de artes cênicas e música e outra de artes visuais, que esvaziavam a função da Funarte. O que nós fizemos foi uma reforma administrativa para trazer para a Funarte as ações dessas áreas. Mas a tarefa maior hoje é tornar a Funarte reconhecida, tanto pelos produtores culturais quanto pelo público, é fazer dela um órgão importante do ministério, e não um adereço.

O Globo – O que o senhor tem de mais urgente para este ano?

Grassi – Nós temos que desenvolver projetos integrados com outras secretarias. Vamos trabalhar também uma política de ocupação dos espaços culturais da Funarte. Hoje a fundação tem espaços em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Os espaços da Funarte não podem ser pautados como um teatro particular, então estamos trabalhando nos editais de ocupação.

O Globo – E o Dulcina?

Grassi – Nós vamos reinaugurar o Teatro Dulcina já este ano, no segundo semestre.

O Globo – Os cortes no orçamento atrapalham a Funarte?

Grassi – A gente tem que trabalhar, tem que priorizar, saber gastar direito o dinheiro. E também fazer parcerias. Nosso orçamento era de R$100 milhões e foi para R$50 milhões e pouco com os cortes. Mesmo assim, é maior do que os orçamentos que eu tive na minha outra passagem pela Funarte. Eu lembro que, quando cheguei à fundação, em 2003, o orçamento era de R$2,5 milhões. Já em 2006 passou para R$47 milhões.

O Globo – Muita gente fala que o senhor é o grande mentor da ministra, que ela sempre o consulta antes de tomar as decisões. O quanto isso tem de verdade?

Grassi – A Ana trabalhou comigo aqui na Funarte, a gente tem uma afinidade, mas não dá para atribuir a mim um papel como se a ministra não tivesse capacidade de elaboração política. Eu vejo até um pouco de machismo nesses comentários, como se a Ana precisasse de um homem forte atrás dela, para poder conduzir o ministério. Eu só fui nomeado no Diário Oficial em 14 de fevereiro. Até lá, eu trabalhava na TV Brasil. Mas desde dezembro eu tenho recebido ataques por ser o mentor disso, daquilo, de coisas de que eu nem participei. Por exemplo, eu nem sabia direito o que era Creative Commons.

O Globo – O senhor acha que a demora nas nomeações para as secretarias atrapalha o trabalho do MinC?

Grassi – Até o meio desta semana, Marta Porto e Cláudia Leitão não haviam sido nomeadas para suas secretarias. Houve mesmo uma demora, o que num primeiro momento foi atribuído ao grande volume de coisas que estava na Casa Civil. Mas agora estamos tendo um movimento mais rápido e temos expectativa de que todos estejam nomeados até a semana que vem.

O Globo – O senhor participou de reuniões importantes. Houve uma no dia seguinte ao da entrevista de Emir Sader para a “Folha de S. Paulo”, em que ele chamava Ana de Hollanda de autista, em que o senhor esteve.

Grassi – Aquela reunião já estava agendada antes, mas é claro que o tema da entrevista do Emir apareceu. Mas a decisão do que fazer coube a Ana, em conjunto com a Casa Civil. Nas discussões sobre a reforma da Lei do Direito Autoral, por exemplo, eu sabia do processo que estava ocorrendo, mas ainda não tinha me aprofundado muito no tema. Só agora estou tomando mais pé da coisa. E isso acontece com muita gente. Tem gente que defende com unhas e dentes esta reforma e não conhece o que está sendo encaminhado. Então a tendência é deixar o projeto por mais um período para consulta pública.

O Globo – Ao que o senhor atribui tantos olhares voltados para o MinC neste momento? Houve a entrevista do Sader, as discussões do direito autoral, a aprovação do projeto de Continuação blog da Maria Bethânia…

Grassi – Muitas dessas coisas acontecem por falta de informação. Li uma reportagem que dizia que o MinC iria rever a reforma da Lei Rouanet, mas ela já está no Congresso. Já passou pela Comissão de Educação e Cultura, foi para a Comissão de Constituição e Justiça e depois ainda vai para as comissões de Orçamento e Indústria e Comércio. Só então ela poderá ir para o plenário da Câmara e para o Senado. Acho que há uma tentativa de desestabilizar o ministério mais do que de esclarecer um assunto.

O Globo – Mas isso viria de quem?

Grassi – Hoje, o que me assusta é que todas as discussões estão radicalizadas. Este ambiente de Fla-Flu está potencializado. Houve um momento em que a discussão do direito autoral colocou os músicos de um lado e os internautas de outro. A gente precisa encontrar um equilíbrio. Nós, do governo, precisamos estar acima disso, não podemos estar no meio da discussão. E, por mais que tenha suas opiniões pessoais, você precisa tentar enxergar as coisas como um projeto público.

*Fonte: Jornal O Globo, 26/03/2011

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